Thrasher Magazine: A Lápide que Chocou o Skate

Quando a maior revista do skate do mundo decretou a “morte” do skate

A edição de outubro de 1993 da Thrasher Magazine entrou para a história como uma das capas mais provocativas já publicadas no universo do skate. Em meio a um período de incertezas no mercado e de questionamentos sobre a identidade cultural do esporte, a revista estampou na capa uma imagem que ninguém poderia ignorar: uma lápide fúnebre com a inscrição “Skateboarding 1943–1993”.

O impacto foi imediato. Para muitos leitores, aquela capa parecia anunciar o fim do skate como o conheciam. Para outros, foi uma jogada ousada, que colocava em pauta as transformações da cena. O que estava claro é que a Thrasher não tinha medo de cutucar feridas e provocar reflexão entre skatistas, marcas e fãs.

O simbolismo da lápide

A imagem da lápide não foi escolhida por acaso. Ela trazia o peso de um funeral simbólico: como se o skate estivesse sendo enterrado após cinquenta anos de existência. O ano de 1943, inscrito como marco inicial, não é um consenso histórico, mas funciona como uma referência simbólica ao nascimento da cultura do skate.

A escolha desse visual provocador tinha uma mensagem: o skate passava por um momento delicado, cercado de crises econômicas, perda de espaço na mídia e mudanças na forma como era visto pela sociedade. A Thrasher quis traduzir em uma única imagem a sensação de que algo estava em jogo – ou o skate renascia, ou poderia de fato desaparecer.

O contexto editorial

Naquela edição, a revista trouxe matérias de peso. Entrevistas com nomes fortes como Chris Pastras, John Cardiel, Christian Hosoi, Julien Stranger e outros mostravam que, apesar do clima sombrio da capa, o skate estava vivo nas ruas e nas pistas.

Além do esporte, a música, sempre presente nas páginas da Thrasher, apareceu em reportagens sobre Cypress Hill, Bad Brains, GG Allin, The Damned e outras bandas. Essa mistura reforçava a ligação entre skate, punk, hardcore e contracultura – pilares que sustentavam a identidade da publicação.

Os anunciantes também seguiam firmes, com marcas como Santa Cruz, Real e Burton ocupando espaço. Isso mostrava que, apesar da capa fúnebre, havia ainda um mercado atuante, embora enfrentando dificuldades.

A visão editorial de Jake Phelps

Em 1993, Jake Phelps assumia a função de editor-chefe da Thrasher. Conhecido por seu estilo direto e sem rodeios, Phelps tinha como missão preservar a essência crua e rebelde do skate. A capa da lápide refletia muito dessa postura: não era apenas uma peça gráfica, mas uma declaração de princípios.

A intenção era clara: chocar, questionar e cutucar a cena. O skate não deveria se acomodar nem se perder em meio ao excesso de comercialização. A imagem da lápide era um alerta: ou o skate se reinventava mantendo suas raízes, ou estaria condenado a morrer como movimento cultural.

O legado da capa

Trinta anos depois, a capa da lápide segue sendo lembrada como um marco da ousadia editorial da Thrasher. Mais do que um anúncio da morte, ela foi um grito de sobrevivência. Representou um chamado à reflexão para skatistas e empresários: o skate só continuaria vivo se mantivesse sua autenticidade e união.

Aquela edição não matou o skate – pelo contrário. Provocou debate, reforçou identidades e ajudou a marcar uma virada na história, mostrando que, mesmo em tempos difíceis, o skate jamais seria enterrado.

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