Skatin’ 1990: O Skate Entre Repressão e Resistência

A capa histórica com Mauro “Mureta”

A edição nº 12 da revista Skatin’, lançada em julho de 1990, trouxe em sua capa uma imagem icônica: o skatista Mauro “Mureta” executando um estiloso tweaked air no half-pipe, em foto registrada por Daniel Bourqui. Mureta, que seria campeão da Copa Itaú/C&A de Skate naquele mesmo ano, também foi o entrevistado principal da edição, reforçando o protagonismo que já havia conquistado dentro da cena nacional.

O registro traduzia o espírito da época: criatividade, ousadia e resistência. Ao estampar um skatista brasileiro em plena ascensão, a Skatin’ mostrava que o skate no Brasil não apenas tinha grandes nomes, mas também merecia respeito e reconhecimento.

A realidade enfrentada pelos skatistas nas ruas

No início dos anos 90, a cena do skate brasileiro vivia sob constante repressão e preconceito. O editorial da revista Skatin’, publicado em maio daquele mesmo ano (edição nº 11), denunciava a criminalização do simples ato de andar de skate. A sociedade tratava muitos skatistas como delinquentes apenas porque eles escolhiam um esporte ainda incompreendido.

Enquanto o futebol era exaltado como paixão nacional, mesmo envolto em escândalos de corrupção e violência, o skate era estigmatizado como prática marginal. Essa injustiça escancarava a visão limitada que a sociedade mantinha sobre a juventude urbana.

A juventude como alvo do preconceito

Grande parte dos praticantes à época eram adolescentes de até 14 anos. Muitos estudavam, trabalhavam e viam no skate não só uma diversão, mas também um caminho de expressão e identidade.

Porém, a ausência de pistas e espaços adequados os empurrava para praças, calçadas e ruas, locais onde a prática era reprimida pela polícia. A marginalização, portanto, não vinha do skate em si, mas da falta de estrutura e da intolerância social.

A voz da Skatin’ como resistência

A Skatin’ assumiu um papel de resistência fundamental. Além de denunciar a repressão, a revista trazia propostas concretas para mudar a realidade, como a publicação de projetos técnicos de pistas. O objetivo era mostrar que havia solução para o crescimento do skate, bastava dar espaço e apoio à cena.

Ao se colocar como aliada dos skatistas, a revista fortalecia a identidade cultural do esporte e criava um canal de comunicação entre praticantes, comunidades e possíveis apoiadores.

O skate como símbolo de liberdade e democracia

O editorial também fazia um paralelo entre a repressão ao skate e os desafios da democracia brasileira. Eles viam andar de skate como um ato de liberdade, e, em essência, (eles) negavam o direito de expressão da juventude ao proibir essa prática.

O texto encerrava com uma crítica marcante: o Brasil só seria verdadeiramente democrático quando não fosse necessário que o próprio Presidente da República subisse em um carrinho para que a sociedade reconhecesse o valor dos skatistas.

Legado e importância histórica

O editorial da Skatin’ nº 11, aliado à simbólica capa da edição nº 12 com Mauro “Mureta”, representa um marco da cultura skate no Brasil. De um lado, a denúncia contra a repressão; do outro, a celebração de um skatista brasileiro que conquistava títulos e inspirava uma geração.

Essa combinação mostra que o skate, mais do que um esporte, sempre foi expressão cultural, resistência e liberdade. Graças a vozes como a da Skatin’, a cena se fortaleceu, conquistando o espaço que antes lhe era negado — nas ruas, nas pistas e na memória de toda uma geração.

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