
A Capa Que Traduz uma Época
Em novembro de 1989, a revista Overall – Ano 3, Número 16 trouxe uma das capas mais simbólicas da cultura do skate brasileiro. O design, criado por Hector Hungria, com foto de Annibal Neto e produção de Fábio Bolota, retrata o skate como um universo colorido, vibrante e repleto de atitude. As colagens de adesivos, shapes e logos internacionais e nacionais formam um mosaico visual que representa o espírito do skate: liberdade, rebeldia e expressão.
A edição custava NCz$ 15,00, e trazia o título “O Brasil das misturas, das tradições e contradições”, refletindo uma fase de afirmação do esporte no país. O Brasil já respirava o skate com mais maturidade e profissionalismo, mas ainda com aquele DNA de rua, criatividade e improviso.
Editorial: Cumplicidade e Identidade
O editorial, assinado por Cesar Gyrão, é quase um manifesto. Ele começa afirmando: “Somos cúmplices do skate. Por ele e com ele.” Essa frase resume o sentimento de uma geração que via no skate muito mais do que um esporte — um estilo de vida.
O texto questiona a “versão brasileira” do skate e celebra a força criativa dos skatistas do país. Gyrão destaca que o Brasil vivia um momento de transformação, com a maior estrutura de skatparks do mundo e o surgimento de novas competições. Mesmo assim, havia uma inquietação: por que o skate nacional ainda buscava reconhecimento internacional?
A resposta, segundo ele, estava na autenticidade. A Overall defendia o skate feito com alma, identidade e liberdade. E se o caminho fosse difícil, então seria seguido com teimosia, paixão e muito estilo.
O Conteúdo: Mistura de Música, Competição e Cultura
O índice da edição revela a diversidade de temas que a revista abraçava. O skate era o ponto central, mas ele dialogava com a música, o comportamento e o espírito urbano.
Em “SOM”, o leitor encontrava o melhor do rock alternativo e punk, ritmos que embalavam as pistas e as ruas. Já em “Circuito UBS” e “Rallye”, a revista registrava os grandes eventos nacionais, como o UBS 89 – Ultra e Pacaembu, que movimentaram o cenário com competições e recordes.
No espaço “Mundial”, o destaque ia para a presença brasileira nas cabeças do skate mundial, provando que o talento nacional começava a ser reconhecido lá fora. E, se o leitor quisesse entender mais sobre estilo, técnica e evolução, podia mergulhar nas seções “Câmera Lenta” e “Dr. Skt”, que traziam dicas, análises e curiosidades.
A Indústria do Skate: Criação e Recriação
Outro ponto forte da edição era o tema “A Indústria do Skate”, um mergulho nas marcas, produções e bastidores que ajudavam o esporte a se profissionalizar. Porque o skate não era só manobra — era também criação, design e mercado.
A revista mostrava como o Brasil começava a produzir seus próprios shapes, acessórios e roupas, enquanto absorvia influências de fora. Era o nascimento de uma identidade nacional do skate, criativa e autêntica.
Conclusão: A Revolução Continua
Se 1989 foi um marco para o skate brasileiro, então a Overall foi o registro mais fiel dessa revolução. Cada página respirava atitude e mostrava que o skate era, acima de tudo, cultura e liberdade.
A mensagem final de Gyrão continua atual: “Continuaremos nessa, até o pescoço.”
E, de fato, o skate brasileiro continuou — firme, criativo e inspirador.