
A Coragem de Quem Andava Contra a Corrente
Nos anos 80, o skate no Brasil era muito mais do que um esporte. Era uma forma de expressão, um grito de liberdade e resistência que incomodava muitos setores da sociedade. A revista Overall Skate Magazine teve um papel essencial nesse cenário, mostrando o lado real e muitas vezes invisível dos skatistas da época. Entre as matérias marcantes, estava “Os Tipos de Repressão”, um texto que retratava com honestidade as dificuldades enfrentadas por quem escolhia o skate como estilo de vida.
Coisa de Vagabundo
A matéria dividia a repressão em três partes — familiar, policial e social —, revelando como o preconceito estava presente em todos os níveis. Primeiro, havia a repressão familiar. Muitos pais viam o skate como perigoso, inútil ou até mesmo uma influência negativa. Então, por medo, preconceito ou simples desconhecimento, proibiam os filhos de praticar. Era comum ouvir que o skate era “coisa de vagabundo” ou que poderia desviar o jovem dos estudos. Mas, na verdade, o skate sempre foi disciplina, equilíbrio e persistência — valores que moldaram uma geração inteira.

A Repressão
Depois vinha a repressão policial. Em um tempo em que as ruas eram vistas como espaço de controle e não de liberdade, o skatista era frequentemente tratado como um infrator. A simples presença de alguém com um shape nas mãos podia ser motivo para abordagem. As autoridades viam o skate como ameaça à ordem pública, e isso criava um clima constante de tensão. Mesmo assim, os skatistas não desistiam, e foi essa resistência que transformou o skate em símbolo de luta e identidade urbana.
Por fim, a repressão social talvez fosse a mais silenciosa, mas também a mais cruel. O visual diferente, o jeito de se vestir, o comportamento livre e a linguagem própria faziam com que o skatista fosse marginalizado. As pessoas julgavam o skatista por sua aparência, por estar na rua e por viver de forma autêntica. No entanto, essa autenticidade foi justamente o que tornou o skate um movimento cultural poderoso, unindo jovens de todas as classes, cidades e estilos de vida.
A Voz Que Ecoou das Páginas
A revista Overall deu voz a essa juventude. Ela não se limitava a mostrar manobras e campeonatos; ia além, discutia comportamento, política e resistência. O espaço valorizava o skate como cultura, e não apenas como diversão.
Matérias como “Andar de skate não é crime” e os textos poéticos que descreviam o skatista como um “legionário de uma guerra sem fim” mostravam a profundidade do pensamento que a revista trazia. Porque o skate sempre foi isso: um ato de rebeldia, mas também de arte, movimento e superação.
O Legado da Overall
Hoje, olhando para trás, fica claro que a Overall Skate Magazine foi muito mais do que uma revista. Ela foi um símbolo de coragem editorial. Em um período em que muitos ainda criminalizavam o skate, a revista enfrentou críticas, abriu espaço para a voz das ruas e consolidou o skate como parte essencial da cultura brasileira.